Um Lugar Chamado Nárnia – Parte VI

6.9.12

Escrito por: Renata Ribeiro Arruda  (Grupo News)

Um Lugar Chamado Nárnia – Parte VI

A realidade do mundo superior

Este artigo é o sexto de uma sequência de sete sobre “As Crônicas de Nárnia”, criação do escritor irlandês C.S.Lewis, que teve, recentemente, três episódios da série adaptados para o cinema: “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”, “Príncipe Caspian” e “A Viagem do Peregrino da Alvorada”.

Para acompanhar a leitura do sexto livro da série, “A Cadeira de Prata”, é importante diferenciarmos os três mundos nele existentes. O primeiro seria o mais real e importante de todos, a verdadeira Nárnia. É o país de Aslam, em que os animais falam, as pessoas são livres, e o sol brilha forte. O nosso mundo, a Terra, seria o segundo. Daqui partem as crianças, filhos de Adão e filhas de Eva, sempre imprescindíveis para resgatar Nárnia de maus tempos. E, por fim, o mais terrível de todos e onde ocorre o clímax da narrativa: o Submundo.


Como no quarto livro da série, “Príncipe Caspian”, mais uma vez a questão do chamado é evidenciada. E repousa novamente sobre a mais nova das crianças. Nesta edição, estarão presentes apenas duas crianças: Eustáquio, primo dos Pevensie, que vai à Nárnia no livro anterior (“A Viagem do Peregrino da Alvorada”), e Jill, do mesmo internato do garoto, que toma conhecimento da existência de outro mundo a partir do amigo.

Após serem levados até Nárnia, obviamente por magia, Eustáquio e Jill acabam se separando. Então a menina recebe do próprio Aslam uma missão importantíssima: a de resgatar o príncipe Rilian, filho de Caspian X, sequestrado há dez anos não se sabe por quem. Para isso, o Leão lhe passa quatro sinais para serem observados atentamente.

"Antes de tudo, lembre-se dos sinais! Repita-os ao amanhecer, antes de dormir e, caso acordar, durante a noite. Cuidado para que o ar pesado não confunda seu espírito."

Mais tarde, a não observância meticulosa dos sinais trará sérias complicações. Nesse ponto encontramos uma importante dica sugerida por Lewis para a vida cristã. Antes de tudo, devemos reconhecer que, ao adentramos o mundo do ‘Leão’, prontamente compreendemos que fomos chamados para algo específico. Não é algo subjetivo, vago. Ele nos dá seus sinais e nos guia para completarmos aquilo para o que nos chamou.


Mas, para alcançar com êxito nossa missão, será necessário atentar e concentrar-se em suas palavras. Tratar de repeti-las e relembrá-las diariamente para, como avisa Aslam, não sermos confundidos em nosso espírito, esquecendo-nos daquilo para o que nascemos. Ouvir a voz de Jesus é a coisa mais preciosa. E perder de vista suas ordens ao longo do tempo é descartar o que temos de maior valor.

O feitiço do Submundo

Sem ter ainda muita clareza sobre a importância dos sinais, Jill parte em busca de Eustáquio. Já juntos, a partir da orientação de corujas falantes, os garotos encontram um narniano para ajudá-los na missão. Era um ser típico de Nárnia, um paulama. Brejeiro – esse é o seu nome – tinha cabelos verdes, mãos e pés formados por membranas como as de sapo, era alto e magro. Embora pessimista, servia fielmente a Aslam.


Passando por diversas situações difíceis e dias pavorosos, os três, por fim, vão parar no Submundo. Ali passam a maior prova de toda a missão, da qual não vou dar muitos detalhes, esperando, com isso, induzi-los à leitura. O fato foi que eles acabaram se metendo numa fria, sofrendo ataques de feitiços da Dama do reino sombrio. A cena era mais ou menos esta: os três estavam num lugar triste e pouco iluminado, onde todos apenas obedeciam à rainha má e sobreviviam. Era um lugar onde havia pouca coisa realmente vívida. 
Para tentar impedi-los de cumprir a missão de resgatar o filho do rei, a rainha tentou enfeitiçá- los. Por meio de uma música e um pó aromático, ela tentava convencê-los de que Nárnia não existia e que tudo não passava de uma invenção. Como o feitiço era bom, as crianças, bem como o paulama, iam perdendo os sentidos e a razão.

O modo utilizado pela feiticeira era muito inteligente. Ela perguntava a eles como era Nárnia e quem era Aslam. Eles tentavam explicar, mas estavam confusos por causa do feitiço. Quando diziam, por exemplo, que Nárnia tinha sol, ela pedia que explicassem melhor. Eles falavam que se tratava de algo semelhante à luz que clareava a sala, mas maior e suspenso no céu. Então ela alegava que não existia sol e que eles apenas davam corda à imaginação a partir de elementos reais, acrescentando a estes dimensões maiores.

Ora, esta é com certeza uma das nossas maiores lutas neste mundo. Parecemos estar sempre diante de uma feiticeira a quem temos de convencer que Deus e seu reino existem. No entanto, quando tentamos explicá-los, as pessoas duvidam de nós, afirmando que cremos apenas em redimensões de algo já existente. E, assim, cansados de tentar persuadir e ainda sujeitos ao aroma mundano, acabamos algumas vezes convencidos de que tudo é apenas uma ilusão.
Mas o poder que rege Nárnia não é facilmente destruído; é vívido e verdadeiro. Chega então o ponto culminante do livro. Um dos mais belos ensinamentos que o autor poderia nos dar. Lutando contra o feitiço, com muita dificuldade, Brejeiro coloca suas patas de sapo no fogo, o que gera o odor mágico e consegue diminuir o encantamento. Já mais racional, ele encerra a discussão:

"Vamos supor que nós sonhamos, ou inventamos, aquilo tudo – árvores, relva, sol, lua, estrelas e até Aslam… Ora, nesse caso, as coisas inventadas parecem um bocado mais importantes do que as coisas reais. Vamos supor então que esta fossa, este seu reino, seja o único mundo existente. Pois, para mim, o seu mundo não basta. E vale muito pouco. [...] Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero viver como um narniano, mesmo que Nárnia não exista [...] estamos de saída para os caminhos da escuridão, onde passaremos nossas vidas procurando o Mundo de Cima… O prejuízo é pequeno se o mundo existente é um lugar tão chato como a senhora diz."

Uauull!!! É impressionante como isso se enquadra perfeitamente no que eu sinto. Às vezes meu espírito está incrédulo, e eu realmente duvido de muitos aspectos do mundo espiritual.

Questiono se realmente não estão certas todas as teorias que negam a existência de Deus. Mas se perscruto um pouco mais profundo o meu ser, percebo que tudo em mim deseja algo muito maior e mais intenso do que já vi e já toquei. Noto meu interior sedento por alguma coisa mais entusiástica do que tudo que há na Terra. E se realmente só existe este mundo, ainda assim vale a pena viver intensamente para Deus e por seu reino. Ainda que Cristo seja uma invenção, Ele é a mais bela de todas, e eu estou certa de que vale a pena ser como Ele.

Em “A cadeira de Prata”, Lewis nos lembra como este mundo nos seduz a esquecer que nascemos para um reino de luz.
Ilustração: Pauline Baynes

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