COMO POSSO PARAR DE FERIR A MIM MESMA?

5.10.12




“Meu sofrimento estava fora de controle; daí encontrei algo que eu conseguia controlar — a dor física.” — Jennifer, 20.*“Quando eu ficava triste, me cortava. Era o meu modo de chorar. Depois eu ficava mais alegre.” — Jessica, 17.“Há duas semanas não faço isso. Para mim, já é um bom tempo. Acho que nunca vou conseguir parar totalmente.” — Jamie, 16.

JENNIFER, Jessica e Jamie não se conhecem, mas têm muito em comum. As três se sentiam angustiadas e adotaram o mesmo método para lidar com o desespero. Elas encontraram alívio temporário por meio da automutilação.
Estranho como possa parecer, o hábito de ferir a si mesmo — que inclui a automutilação — tem se tornado muito comum entre adolescentes e jovens. O jornal canadense National Post observa que essa prática “assusta os pais, deixa os conselheiros [escolares] confusos e desafia os médicos”. Também diz que a automutilação “pode se tornar um dos piores vícios conhecidos pela medicina”. Você ou alguém que conhece se tornou escravo desse hábito? Se esse for o caso, o que pode fazer?
Primeiro tente entender o motivo de sentir a necessidade de se ferir. Lembre-se de que se cortar não é uma simples mania. Em geral, é uma forma de lidar com algum tipo de estresse. A pessoa que se corta usa a dor física para aliviar a dor emocional. Então pergunte-se: ‘Qual é o objetivo de eu ferir a mim mesma? Em que estou pensando quando sinto vontade de me cortar?’ Há alguma coisa em sua vida — talvez relacionada à família ou aos amigos — que está afligindo você?
Sem dúvida, é preciso coragem para fazer essa auto-análise. Mas pode valer muito a pena. Em geral, esse é o primeiro passo para deixar de praticar a automutilação. Contudo, é necessário mais do que apenas descobrir as causas.

A IMPORTÂNCIA DE CONTAR O SEGREDO A ALGUÉM
Se você caiu vítima da automutilação, será bom conversar sobre seus sentimentos angustiantes com uma amiga ou um amigo maduro e confiável. Um provérbio bíblico diz: “As preocupações roubam a felicidade da gente, mas as palavras amáveis nos alegram.” (Provérbios 12:25, Bíblia na Linguagem de Hoje) Confidenciar-se com alguém pode abrir a oportunidade para você ouvir as palavras amáveis e consoladoras que precisa. — Provérbios 25:11.
Com quem deve conversar? Seria bom escolher alguém mais velho, que demonstre sabedoria, madureza e compaixão. Os cristãos têm a ajuda dos anciãos, que são “como abrigo contra o vento e como esconderijo contra o temporal, como correntes de água numa terra árida, como a sombra dum pesado rochedo numa terra esgotada”. — Isaías 32:2.
É verdade que a ideia de contar seu segredo a alguém pode parecer assustadora. Talvez você se sinta como Sara. “No começo, achei difícil confiar em alguém”, admite ela. “Eu achava que quando as pessoas me conhecessem de verdade se afastariam com aversão e repugnância.” Mas, quando falou sobre o assunto, Sara entendeu a verdade do que a Bíblia diz em Provérbios 18:24: “Há um amigo que se apega mais do que um irmão.” Ela diz: “Os cristãos maduros com quem conversei nunca me censuraram, não importava o que eu contasse a eles sobre meus hábitos de ferir a mim mesma. Em vez disso, eles me deram sugestões práticas. Raciocinaram comigo sobre textos bíblicos e me reanimavam pacientemente sempre que eu ficava desesperada ou me sentia totalmente inútil.”
Que tal conversar com alguém sobre seu problema com a automutilação? Se achar que não consegue falar pessoalmente, tente fazer isso por meio de uma carta ou pelo telefone. Falar sobre o problema pode ser um bom passo em direção à recuperação. Jennifer diz: “A coisa mais importante foi saber que alguém realmente se interessava por mim, que eu tinha com quem conversar quando ficava deprimida.”

A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO
Donna estava num impasse. Por um lado, sentia que precisava da ajuda de Deus. Por outro, achava que ele não lhe apoiaria enquanto ela não parasse de se cortar. O que a ajudou? Meditar em 1 Crônicas 29:17 foi de ajuda; ali diz que Jeová Deus ‘examina o coração’. “Jeová sabia que, no coração, eu queria muito parar de me cortar”, diz Donna. “Quando comecei a orar pedindo ajuda, foi impressionante. Aos poucos, fui ficando mais forte.”
O salmista Davi, que passou por muitas dificuldades, escreveu: “Lança teu fardo sobre o próprio Jeová, e ele mesmo te susterá.” (Salmo 55:22) Jeová conhece o seu sofrimento, pode ter certeza. Mais do que isso, ele cuida de você. (1 Pedro 5:7) Se o seu coração lhe condena, lembre-se de que Deus ‘é maior do que o seu coração e ele sabe todas as coisas’. Sim, ele entende por que você fere a si mesma e por que você acha difícil vencer esse hábito. (1 João 3:19, 20) Se você recorrer a ele em oração e se esforçar para superar o vício da automutilação, ele vai “realmente ajudar” você. — Isaías 41:10.
Mas e se você tiver uma recaída? Significa isso que você fracassou totalmente? De jeito nenhum! Provérbios 24:16 diz: “O justo talvez caia até mesmo sete vezes, e ele se há de levantar.” Pensando nesse versículo, Donna diz: “Eu caí mais de sete vezes, mas não desisti!” Ela descobriu que a persistência é essencial. Karen também. “Aprendi a encarar a recaída como um atraso temporário, não um fracasso, e a recomeçar sempre que fosse necessário”, diz ela.

QUANDO É PRECISO AJUDA PROFISSIONAL
Jesus reconheceu que ‘os doentes precisam de médico’. (Marcos 2:17) Em muitos casos, é necessário consultar um profissional especializado para saber se há algum distúrbio por trás do hábito de automutilação e para considerar um tratamento. Jennifer resolveu obter essa ajuda, que complementou o apoio recebido dos amorosos superintendentes cristãos. “Os anciãos não são médicos, mas me apoiam muito”, diz ela. “Embora a vontade de ferir a mim mesma ainda apareça de vez em quando, tenho conseguido controlá-la com a ajuda de Jeová, da congregação e dos métodos que aprendi para lidar com que ela.”
Tenha certeza de que você pode aprender a substituir esse hábito por modos melhores de lidar com suas angústias. Ore assim como o salmista: “Firma solidamente os meus próprios passos na tua declaração e não me tiranize nenhuma espécie de coisa prejudicial.” (Salmo 119:133) Com certeza, você vai obter satisfação e auto-estima ao controlar essa prática, de modo que ela nunca mais tiranize você.

PARA VOCÊ PENSAR
▪ Em vez de se cortar, que outras coisas você pode fazer quando se sente angustiada?
▪ Com quem você pode conversar se tiver problemas com a automutilação?

Para mais informações sobre a automutilação — o que está envolvido e as causas — veja o artigo “Os Jovens Perguntam . . . Por que firo a mim mesma?” na Despertai! de janeiro de 2006. 
Um modo de se habituar a expressar seus sentimentos em palavras é por escrevê-los de vez em quando. Os escritores dos salmos bíblicos eram homens com sentimentos profundos, que usaram palavras para expressar remorso, raiva, frustração e tristeza. Como exemplos, talvez queira relembrar os Salmos 6, 13, 42, 55 e 69.
Às vezes a automutilação é um efeito colateral de outro distúrbio, como depressão, distúrbio bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo ou um distúrbio alimentar. Despertai! não endossa nenhum tratamento específico. Os cristãos devem certificar-se de que o tratamento escolhido não entre em conflito com princípios bíblicos.
Números anteriores de Despertai! contêm artigos sobre assuntos que em geral estão por trás da automutilação. Por exemplo, veja as séries “Entenda o que são transtornos do humor” (8 de janeiro de 2004), “Ajuda para os adolescentes deprimidos” (8 de setembro de 2001), “O que há por trás dos distúrbios alimentares?” (22 de janeiro de 1999) e o artigo “Os Jovens Perguntam . . . Como posso conviver com um pai alcoólatra?” (8 de agosto de 1992).

COMO AJUDAR ALGUÉM QUE SE AUTOMUTILA
Como você pode ajudar um amigo ou alguém da família que tem problemas com a automutilação? Visto que a pessoa talvez esteja precisando desesperadamente de alguém para conversar, você pode ser um bom ouvinte. Tente ser um “verdadeiro companheiro” que é “nascido para quando há aflição”. (Provérbios 17:17) Pode ser que sua primeira reação seja se desesperar e mandar a pessoa parar de se cortar imediatamente. Mas é provável que essa atitude só faça a pessoa se isolar mais. Além disso, é necessário mais do que apenas mandar a pessoa parar. Será preciso perspicácia para ajudar a pessoa a descobrir modos diferentes de lidar com os problemas. (Provérbios 16:23) Isso também levará tempo, portanto, seja paciente, “rápido no ouvir, vagaroso no falar”. —Tiago 1:19.
Se você é jovem, não pense que, sozinho, pode ajudar alguém que tem problemas com a automutilação. Lembre-se de que, por trás disso, pode haver um problema ou distúrbio que precisa de tratamento. A automutilação também pode apresentar riscos à vida — mesmo que a pessoa não tenha idéias suicidas. Seria sábio, portanto, incentivar a pessoa a falar sobre o assunto com um adulto maduro e atencioso.

Nunca subestime a importância da oração e de conversar com uma pessoa querida!

Foto: Pischip

*Texto originalmente publicado no blog Temporada das Flores. Compartilhe você também e ajude quem precisa, seja uma benção na vida de alguém ;)

0 comentários