Foto: Miles Aldridge
Hoje,
pela manhã , li uma crítica do filme God’s Not Dead no Gospelspam.com, e me
deparei com a tese da crítica na qual li o seguinte título "Deus não está
Morto, mas os roteiros Cristãos estão".
A
crítica tinha várias coisas boas sobre o filme, mas também várias coisas sobre
os problemas dos roteiros Cristãos atuais, principalmente o enredo. Isso mexeu
comigo e me fez refletir, pois sou Cristão e estudo roteiros de cinemas desde
2007. Eu escrevi enredos (produzidos e não produzidos) e publiquei meu primeiro
romance, Thimblerig’s Ark, recentemente. Senti que deveria
responder nos comentários no Gospelspam.com, e então decidi repetir alguns
comentários aqui.
Bem,
primeiramente, não pretendo atacar meus caros artistas Cristãos. Normalmente,
tenho grande respeito por qualquer um que transforme uma ideia em filme, e pelos
artistas Cristãos, e também respeito a intenção por trás de todo o processo. E
sei que talvez haja alguns filmes Cristãos independentes que sejam bons e que
ainda tentam alcançar mais espectadores, mas infelizmente não conseguem por
inúmeros motivos. A ideia desse artigo é demonstrar a minha frustração com os
limites encontrados pelos artistas Cristãos, impostos pela igreja em geral.
Por
séculos a igreja foi a principal patrocinadora da arte, Cristãos foram
responsáveis por desenvolver a arte culturalmente, e nós vemos grandes artistas
como Bach, Handel Mozart, Rembrandt, Michelangelo e muitos outros que
contribuíram com a arte. Mas por algum motivo, os Cristãos não têm conseguido
conquistar um grande público com a arte escrita, o que é irônico levando em
consideração que somos os guardiões da maior história já contada. Apesar de
haver algumas exceções (C.S. Lewis e Flannery O'Connor no ramo literário para
exemplificar), os Cristãos atuais parecem enfrentar dificuldades ao criar uma
história cativante com um final profundo que irá além da igreja.
Esse
é um tópico de várias camadas, e é, felizmente, um tema que está sendo
discutido entre artistas e escritores Cristãos. Em 2007, eu tive a oportunidade
de passar por um curso intensivo de roteirista por um mês em Hollywood com a Act One, uma organização
que ensina escritores e produtores Cristãos a escrever e produzir bons filmes
com integridade. Foi um dos meses mais excitantes de minha vida, pois
discutíamos sobre isso diariamente. Desde então, eu consigo ver três grandes
obstáculos que os artistas Cristãos enfrentam quando tentam escrever, cantar ou
filmar algo que poderá causar impacto no mundo. E pelo bem desse artigo,
focarei no roteiro cinematográfico Cristão.
O
primeiro problema é que o roteiro Cristão precisa ser SEGURO. Quando foi a
última vez que vimos um filme "baseado na fé" que era proibido para
menores de 16 pois continha a verdadeira descrição do pecado? É um grande
dilema, pois como seguidores de Cristo, não queremos pecar ou induzir as
pessoas a pecarem por meio do filme, mas isso limita nossa capacidade de
retratar a vida. Se você é Cristão, quando foi a última vez que viu um filme
Cristão que questionou a sua fé? Qual foi o último filme Cristão que lhe fez
perguntas sem dar respostas? Será que a grande cultura Cristã permite isso?
O segundo
problema é que os filmes Cristãos precisam ser
PREVISÍVEIS. Quando estava nos acampamentos de verão no Cazaquistão, um amigo
me fez perceber que a representação de Satanás sempre foi mais interessante que
a de Jesus. Ele também disse que isso não era grande coisa, pois Satanás não
era interessante, seja lá como fosse apresentado, ele sempre agia da mesma
maneira, e o mesmo se aplica a Jesus. Percebi que nos filmes Cristãos o
protagonista e o antagonista sempre agem de um modo específico, se não fizerem,
o filme não será bem aceito. O que o público quer? O não-Cristão precisa se
converter, e o Cristão precisa encontrar a "vitória" de algum jeito. Meu
maior desapontamento com o filme dos irmãos Kendrick, "Facing the Giants" (Desafiando os Gigantes), é que o filme teve a incrível
oportunidade de mostrar como os Cristãos lidam com a falha, mas mesmo assim os
produtores do filme decidiram torná-lo um filme no qual a oração muda o rumo da
história. Apesar de ser previsível, o filme fez um enorme sucesso.
O
terceiro problema é que a produção cristã deve PREGAR AO PÚBLICO. Com exceção
da "Paixão de Cristo" de Mel Gibson, quantos filmes conseguiram
progredir culturalmente fora da igreja? Quando foi a última vez que um filme
criado por Cristãos foi aclamado por críticos não-Cristãos? No último fim de
semana, "Deus não está Morto" teve uma boa bilheteria, conseguindo um
total de US$9,2 milhões, mas quanto desse dinheiro veio de
não-Cristãos? O filme atualmente possui 40% no
Rotten Tomatoes, o que é muito para um filme cristão.
O
filme de Darren Aronofsky que ainda está por vir, Noé, é um caso bem
interessante para mim, e é um filme que gostaria de ver há um bom tempo.
Infelizmente, um motivo que me faz ter esperança no filme, é que ele NÃO foi
criado por Cristãos, e enquanto o estúdio quer um "pedaço da torta"
que é a bilheteria cristã, Aronofsky fez o filme que desejava. Estou bem mais
interessado nesse filme do que em "Deus não está Morto" ou no recente
"Filho de Deus", pois será tudo que um filme Cristão não é, será
perigoso, forçando o espectador a repensar a clássica história de Noé, será
totalmente imprevisível, pois Aronofsky não está limitado pela lealdade ao
moderno.
Quão
bom seria se um filme criado por Cristãos conseguisse a mesma bilheteria que Noé
terá, com um público totalmente heterogêneo? Aqui está o que acredito que o
corpo de Cristo pode se tornar:
1)
Precisamos permitir que os artistas arrisquem mais. E aos artistas, com
permissão ou não, arrisquem mais. Você conseguiu mesmo trabalhar com
arte estando na sua zona de conforto? Por que ficar na zona de conforto se
possui algo melhor a dizer?
2)
Precisamos encorajar nossos artistas a desafiarem ao invés de mexerem com nossa
sensibilidade. Uma pérola é criada quando a sujeira irrita a ostra. Ou seja,
não esperem por permissão. Comece a desafiar seu público. Eles tentarão resistir, sem dúvida alguma, mas precisamos ser desafiados ou ficaremos
estagnados e nos tornaremos irrelevantes.
3)
Precisamos reconhecer que a arte é arte, o pregador é pregador, e mesmo que
seus caminhos se cruzem uma vez ou outra, eles são seres diferentes. Isso se
aplica a todos. Será que todo mundo entende isso? Com todo o criticismo em
relação a Noé não ser "bíblico", concluo que muitas pessoas
não entendem.
4)
Precisamos nos acostumar com filmes que não trazem todas as respostas. Mesmo
que consigam questionar de forma eficiente e profundo, eles acabam abrindo
portas para discussões nas quais as respostas podem ser exploradas. Artistas,
não faz parte do seu trabalho gerar a dúvida? Não ache que deve pôr um
ponto final em toda discussão.
5) E
mais importante: conte boas histórias. Como Frank Capra disse "Se
quiser mandar uma mensagem, tente a Western Union." Caso você for um
artista, a qualidade do seu trabalho deveria ser a sua prioridade. Jesus não
foi conhecido por contar histórias ruins que deixavam as pessoas com raiva. Ele
foi conhecido por contas histórias persuasivas que desafiava seu público
enquanto passava a palavra de Deus. Não deveríamos fazer como Jesus?
Tenho
que concluir o artigo ressaltando que respeito os Cristãos que estão tentando
entrar no ramo de produção de filmes, e espero que consigam. Apenas espero que
consigam entender como contar A História, a maior história de todas, do jeito
que ela merece ser contada, e que seja tão boa que atraia pessoas que estão
fora da cultura Cristã.
Texto: Nate Fleming
Tradução: Pedro Blasque