EU SOU EUSTÁQUIO

23.11.15



PAULO
O Primeiro Eustáquio


O primeiro Eustáquio era soldado de Roma e perseguia os cristãos, matava mulheres grávidas, crianças, seja quem fosse e seguisse Jesus. Ele tem uma visão, e nessa visão ele vê uma luz muito forte, que faz ele cair no chão e ficar cego. 

Muitas vezes Deus permite que fiquemos cegos na vida para que possamos ver de verdade o que está acontecendo. Algumas vezes Deus permite que tudo fique escuro, para que possamos pedir sua luz novamente na nossa vida. E foi isso que aconteceu na vida de Paulo. Ele foi totalmente transformado por Jesus ao ficar cego. Às vezes aquilo que parece ruim hoje, vai ser extremamente bom amanhã. Às vezes o que parece extremamente insuportável hoje, vai ser a sua maior alegria no futuro.

Precisamos acreditar, que a vida tem um propósito, e nós somos um Eustáquio. Mas ele ainda estava cego. Precisava de ajuda pra andar, pra fazer tudo. Deus prepara e chama a vida de Ananias. Ananias se torna o grande amigo e aquele com que faz que Paulo veja as coisas como elas realmente são. Faz com que volte a visão. Quando nós ficamos cegos, sempre existe alguém por perto, que de alguma forma, quer nos mostrar o que não vemos. Sempre existirá alguém. Às vezes não aceitamos este alguém, ou tentamos lutar sozinhos. Mas o que Deus realmente quer é que percebemos esses Ananias, essas pessoas que se colocam no nosso caminho de uma forma estranha pra nos mostrar quem realmente somos e porque estamos aqui. Aceite as amizades por mais estranhas que elas possam parecer.

Paulo assim como o Eustáquio de Nárnia, não acreditava em Nárnia, não acreditava que existia outro mundo e outra realidade. Mas a cegueira e esse grande acontecimento da visão e a amizade de Ananias fizeram ele perceber que existe algo mais. Paulo é o primeiro Eustáquio. 



SANTO EUSTÁQUIO
O Segundo Eustáquio

Santo Eustáquio foi um mártir e militar do final do século I e começo do século II. Antes da sua conversão ao Cristianismo, o nome dele era Plácido, e assim como Primeiro Paulo ele era um General Romano à serviço do imperador Trajano. Enquanto caçava nas proximidades de Roma, Plácido teve uma visão de Jesus entre os anjos! Incrivelmente igual ao que aconteceu com Paulo um século antes. Quando Plácido teve a visão, ele se converteu ao cristianismo e batizou-se com sua família e mudou o Seu nome para EUSTÁQUIO! Do grego Eustachion, que significa boa fortuna. E assim como no primeiro Eustáquio, Paulo, Plácido, agora com seu novo nome, teve vários problemas quando aceitou a Cristo. E foi uma série de acontecimentos em sua vida e na sua família para provar a sua fé: foi roubado, a sua esposa raptada pelo capitão do navio onde seguia e, por fim, ao atravessar um rio, os seus dois filhos foram levados, um por um lobo e o outro por um leão. Mas ele não desistiu de acreditar.

O Segundo Eustáquio nos ensina que Deus sempre vai provar a nossa fé e o quanto acreditamos Nele. Qual a nossa confiança nele. Coisas ruins vão acontecer  para fazer você desacreditar e desistir. Roubos. Traições. Promessas não cumpridas. Expectativas frustradas. Mentiras. Acusações. Mortes. Injustiças. Não perca a fé. Não pare de acreditar. Ele lutou por muito tempo e recuperou sua família e teve mais filhos. Mais quando ele recusou a fazer um sacrifício pagão foi condenado a morte com toda sua família, cozinhados vivos dentro de uma bacia de bronze. O segundo Eustáquio nos ensina que nossa fé pode nos levar a morte. Mas vale a pena morrer por ela. Santo Eustáquio, é o Segundo Eustáquio.


EUSTÁQUIO MÍSERO*
O Terceiro Eustáquio

Eustáquio Mísero é um personagem criado pelo escritor britânico C.S Lewis que faz parte do livro As Crônicas de Nárnia. A primeira vez que um leitor se depara com Eustáquio em A Viagem do Peregrino da Alvorada o detesta, pelo simples fato de que ele é insuportável! Chato, metido a besta, arrogantemente, inteligente e sempre disposto a menosprezar o outro. Eustáquio é um ótimo exemplo da natureza carnal que a Bíblia fala. O menino não consegue supor a existência de um outro mundo e mesmo indo a esse outro mundo se recusa a reconhecer que está errado. Eustáquio é correto, vem de uma família vegetariana, é inteligente, asseado, politicamente correto; e como muitos de nós tem um orgulho excessivo da própria retidão de vida. É uma dessas pessoas que dizem que não roubam, não mentem, não matam, não sonegam, não traem, mas faz questão de mostrar que é melhor que o outro… Cheio de retidão, vazio de compaixão.

Como se isso não bastasse, Eustáquio é terrivelmente materialista, desses que negam a metafísica até a morte. E além de não acreditar em coisas que não podem ser explicadas cientificamente, ele menospreza os que acreditam. Eustáquio zomba da fé alheia mesmo que seja confrontado pelo sobrenatural; zomba para não reconhecer que pode estar errado. Eustáquio entrou numa caverna de dragão para se livrar de ajudar os primos a trabalhar, planejou carregar o tesouro do dragão e a medida que planejava matutava abandonar os primos e fugir pra Calormânia rico. Nesse interím dormiu e acordou um dragão. E como diz o Lewis, o menino “chegou a conclusão de que era um monstro, separado do resto da humanidade”. E o Mísero dragão passou a ter saudade de momentos de interação com os outros humanos a quem ele tanto desprezou. Ser dragão quebrou o orgulho de Eustáquio. Especialmente porque aquela forma só evidenciava quem ele era de fato. E o dragão chorou e chorou muito alto. Sendo dragão ele aprendeu algumas lições sobre conviver com os outros e percebeu o quanto ele mesmo era insuportável. E calado sofria porque chegaria um momento em que seria insustentável conviver com um dragão apesar da boa vontade da tripulação do Peregrino. Para a sorte dele, o dragão-menino Mísero foi alcançando pela Misericórdia. Aquela que ele não conhecia e de quem zombava sobre a existência. Eustáquio constatou sua miserabilidade e lamentou sobre ela e num maravilhoso golpe do Amor foi chamado à lucidez. A cena é uma das mais lindas de todas as Crônicas de Nárnia.

Eustáquio conta que era noite e que surgiu diante de si uma figura de leão e apesar de não ter lua, o luar acompanhava o leão, que foi subindo a um monte seguido por Eustáquio. Ao chegar no monte Eustáquio viu águas limpas e entendeu que precisava arrancar de si aquela pele de réptil e assim o fez. Eustáquio conseguiu se livrar da forma de dragão esfregando a pele com as próprias mãos. E ficou feliz. Mas quando encostava na água viu que as escamas e rugas retornavam. E ele repetiu o processo e novamente foi frustrado. E aí:

"Aconteceu exatamente a mesma coisa. Eu pensava: “Deus do céu! Quantas peles terei de despir?”. Como estava louco para molhar a pata, esfreguei-me pela terceira vez e tirei uma terceira pele. Mas ao olhar-me na água vi que estava na mesma. Então o Leão disse (mas não sei se falou): “Eu tiro a sua pele”. Deitei de costas e deixei que ele tirasse a minha pele. A primeira unhada que me deu foi tão funda que julguei ter me atingido o coração. E quando começou a me tirar a pele senti a pior dor da minha vida. (…) Nessa altura agarrou-me – não gostei muito, pois estava todo sensível sem a pele – e atirou-me dentro da água. A princípio ardeu muito, mas em seguida foi uma delicia. Tinha voltado a ser gente. Depois de um certo tempo, o leão me tirou da água e me vestiu com uma roupa nova. Acho que foi um sonho."

Edmundo que é o ouvinte do relato esclarece a Eustáquio que não é sonho e que ele teve um encontro com Aslam, Aslam a quem ele não conhecia, ouvia falar e debochava. É Aslam que nos encontra. E Aslam que chega na hora certa, chegou quando o coração de Eustáquio estava ávido por transformação,  porque enfim ele se deu conta de quem era.

Aslam ouviu o lamento do Mísero. E o que Aslam fez a Eustáquio cada um de nós entende, por ter vivido experiência parecida. Havia muitas peles de dragão em Eustáquio de que ele jamais se livraria com seus próprios méritos, força ou estratégia. É mera tentativa. O último Eustáquio nos mostra que não é pelo nossos esforços é pelo Dele. Eustáquio nos mostra que por mais loucos, sagazes, estranhos, duvidosos, e cheios de falhas que somos, existe alguém como Aslam que quer nos encontrar sempre e mudar a nossa história. Pode ser dolorido esse processo, assim como foi na vida de Paulo.

Assim como foi na vida de Plácido, na vida de Eustáquio também pode ser na nossa vida. Mas o grande segredo é não desistir e entender que Deus prepara amizades para nós tão especiais quanto a de Reepicheep que permaneceu ao lado de Eustáquio todo tempo, como seu amigo verdadeiro. Assim como Reepicheep na vida do Primeiro Eustáquio temos a experiência de Ananias, na vida do Segundo Eustáquio Temos a sua mulher que volta e permanece com ele e no último Eustáquio temos Reepicheep, seu amigo fiel e escudeiro. 

Estamos em constantes transformações o tempo todo. E talvez como os três Eustáquios você acha que é um dragão. Alguém que não se encaixa no mundo. Alguém que precisa se encontrar de novo. Existe um Reepicheep pra você. Existe um Ananias. E existe alguém quem gosta de você do jeito que você é. Essas pessoas vão te levar pra Aslam. Pro leão. Pra Jesus. Aquele que permanece para sempre com a gente.

Eu sou um Eustáquio. E você? 


*Trechos retirados de Apenas Música


0 comentários